Por Zito do Rosário Ossumane
Desde as 13 horas de ontem até as 7 e 20 minutos desta manhã, Moçambique esteve privado do acesso à internet móvel, acumulando mais de 18 horas de completo isolamento digital. Em plena era das comunicações, onde a internet constitui alicerce para o exercício pleno da cidadania e do desenvolvimento económico, vi a interrupção como um prenúncio dos males que rondam a nossa jovem democracia.
Uma suspensão abrupta da internet desorganiza a economia em vários níveis. Pequenas e médias empresas que dependem de transacções móveis, pagamentos digitais e redes sociais para anunciar os seus produtos com perdas de receitas que dificilmente serão recuperadas. A relação entre comerciantes, fornecedores e clientes também sofre um impacto, os serviços atrasam, e até os bancos, onde se realizam operações substanciais, são impedidos de atender. Num país que busca atrair investimentos, um bloqueio dessa natureza deixa profundas cicatrizes, é um reflexo da insegurança que repercute além das nossas fronteiras e fragiliza a imagem de Moçambique perante o mundo.
Para o cidadão, a internet transcende o luxo para se tornar uma necessidade. É através dela que milhares de moçambicanos comunicam-se com parentes distantes, informam-se, educam-se e participam da vida social. Dessa forma, o bloqueio não é apenas uma limitação técnica, mas um ataque direto ao direito do moçambicano a uma vida informada e conectada.
A história ensina-nos que o bloqueio da internet não apazigua crises políticas; pelo contrário, exacerba-as. Ao negar o acesso à informação, o governo atinge o próprio povo, que vê seus direitos tolhidos e suas vozes silenciadas. Em regimes autoritários, como presenciamos no Zimbabué e em Uganda, essas tentativas de restringir o debate e a participação cívica aumentaram o descontentamento, enfraquecendo ainda mais a legitimidade dos governantes.
Ao longo da última década, regimes como os de Uganda e Togo usaram o bloqueio de internet como ferramenta de controle em períodos eleitorais e protestos. Tais medidas resultaram em intensas críticas internacionais e na intensificação das tensões sociais. Uganda, por exemplo, bloqueou a internet nas eleições de 2021, enquanto o Zimbabué recorreu ao corte em resposta a protestos em 2019.
Moçambique não pode permitir-se seguir este caminho. O direito à informação é a pedra angular de qualquer sociedade livre, e o nosso compromisso com a verdade e com o direito de saber deve ser inabalável. Para superar a crise, o governo precisa apostar no diálogo e na transparência. Que saibamos, enquanto povo, preservar a nossa dignidade, exigindo o respeito aos direitos que nos são devidos em um Moçambique democrático.